O jejum

Caros irmãos e irmãs, a Quaresma é o Tempo de preparação para a Páscoa do Senhor. Tempo favorável, em que todos nós devemos nos dedicar à reflexão, à análise profunda de como estamos vivendo: em família, em comunidade, no trabalho, no estudo e no lazer. Enfim, como estamos sendo, cristãos e cristãs em nosso dia-a-dia. Quaresma é um retiro, é um caminho espiritual de conversão. Jesus, conduzido pelo Espírito Santo, fez também a experiência no deserto.

O Tempo da Quaresma só tem sentido quando entendido e vivido em preparação ao Tríduo Pascal, passagem da Morte à Ressurreição de Cristo. Por isso, os temas da Quaresma são voltados ao batismo e à penitência. No Evangelho de S. Mateus, capítulo 6, Jesus ensina sobre a caridade, a oração e o jejum, que são para nós, um caminho do processo de mudança de vida. Ao longo desta 1ª Procissão penitencial faremos uma breve meditação sobre a prática quaresmal do Jejum, penitência que inclui a abstinência e o sacrifício.

O que é o Jejum?

O jejum e a abstinência são práticas que nos ajudam a preparar melhor nosso coração para tomarmos consciência das bênçãos que o Senhor nos dá. Esta prática ou qualquer outro tipo de penitência corresponde ao nosso esforço sincero, em controlar nossos instintos e paixões, para nos mantermos no caminho de Deus. O jejum não é uma dieta, nem se trata de perder peso, mas sim de buscar o Senhor, educando nossa vontade em vista de nossa conversão e fidelidade a Deus.

Jejuar também não é apenas deixar de comer ou provocar sofrimento a si mesmo. Jejuar é um ato de fé e exercício de liberdade. O jejum é uma postura que assumimos diante dos bens criados. Na abstinência de comida ou de bebida devemos procurar o autodomínio em relação ao alimento e, por consequência, às demais coisas que podem nos escravizar, sejam os bens materiais, as ideologias ou os apegos. Isso quer dizer que devemos fazer jejum, não apenas de comida, mas também de pensamentos, de olhos, de ouvido, boca e coração.

O que o jejum nos ensina?

Devemos jejuar para estarmos cada vez mais próximos de Deus, e esta é e sempre será a razão principal. Por trás dos pecados que nos dominam, dos fracassos pessoais, dos muitos males que afetam a Igreja e obstruem os canais da bênção de Deus, se encontra o orgulho no coração do homem. O jejum é um exercício espiritual que nos remete à humildade, disciplina o corpo e lapida a alma. Jejuar ajuda a vencer batalhas espirituais, pois estaremos mais intimamente ligados a Deus.

O Jejum e a oração caminham juntos. Ambos são maneiras de nos ajudar a nos concentrar na vida no Espírito; nos permitem obter o controle de nossas vontades para que direcionemos as energias mentais e espirituais para Deus. A grande finalidade da oração e do jejum não é mudar a vontade de Deus, mas mudar a nós mesmos! A purificação espiritual trazida pelo jejum e oração nos conduz à caridade misericordiosa, ao dom da paz e à compaixão pelo sofrimento alheio.

O que acontece no mundo espiritual quando jejuamos?

Ao jejuarmos e orarmos, fortalecemos o nosso espírito com um maior entendimento e maior autoridade sobre o Inimigo. Porque somos corpo, alma e espírito, com o jejum passamos a vigiar mais de perto nossos pensamentos, palavras, reações e atitudes. Somos fortalecidos no combate contra determinadas classes de demônios, conforme nos ensina o Próprio Jesus. As bênçãos de Deus, espirituais e físicas, descem sobre nós, com a proteção e os livramentos de muitos males.

No evangelho da liturgia de hoje, Jesus nos ensina a respeito do jejum: Ele se apresenta como o Noivo que desposa a Comunidade-Igreja e convida todos a entrar em comunhão com Ele, o Deus conosco. A resposta de Jesus não desvaloriza nem anula a prática do jejum, pois o jejum conduz a Ele. Porém, mais importante do que fazer jejum naquele momento é acolher Jesus, ali presente, bem como os seus preciosos ensinamentos de salvação.

Gesto concreto

A fim de colocarmos em prática as reflexões meditadas nessa procissão penitencial, propomos para a semana, um dia de jejum e orações pelos que passam fome, e como fruto do jejum, reservar algum alimento para ser doado a uma família necessitada.